domingo, 12 de junho de 2016

MAS VOCÊ VAI VIAJAR SOZINHA?

Quando eu comecei a espalhar meus planos de viajar, a pergunta que mais ouvi foi: “Mas você vai viajar sozinha?” Eu que não perco o bom-humor por quase nada nesse mundo, já respondia logo: Claro que não! Não sou doida! Vou com Deus, Buda, Shiva, Krishna, Alah, Nossa Senhora, Maomé, Jah, Ganesha, ou seja, a rapaziada toda!!!

Daí vinha outra pergunta: “Mas você já viajou sozinha antes né?” Bem, sim e não! Já viajei sozinha no Brasil, já peguei voo sozinha para ir encontrar pessoas que me acolheram em outro país, como quando eu morei no Canadá ou no Bahrein. Mas planejar uma viagem sozinha, tomar decisões sozinha, comer sozinha, andar sozinha em um país que você nunca tinha ido antes... não, isso foi a primeira vez.

Pra mim estar sozinha é algo muito natural, não tenho problema com isso. Acho super bacana o tempo que você tem pra entrar em contato com seus próprios pensamentos, bater um papo com você mesma... Posso tranquilamente ir ao cinema com minha única companhia, ou sair pra jantar alone... Not a big deal! Aliás, li em algum lugar que estar sozinho é como um vício, depois que você percebe a paz que é, fica difícil lidar com as pessoas. Não concordo inteiramente com essa afirmação, até porque não gosto de extremos. O fato é que aprecio e muito a companhia da minha família e dos meus amigos seja para o que for. Mas tenho que dizer que estar sozinha de vez em quando me traz uma paz sem fim.

Voltando ao assunto da viagem sozinha, eu simplesmente estou amando essa experiência! Apesar de não ser fácil, tem sido uma viagem incrível e tenho certeza que eu faria de novo! Dá muito medo, uma baita insegurança e a ansiedade nem se fala (pode parecer que não, mas me considero um poço de ansiedade.... Se bem que essa viagem está me ajudando a resolver isso). O bom é que só você, e mais ninguém, é responsável pelas decisões. Tudo bem se você cancelar um passeio nas praias paradisíacas da Tailândia só porque você está com dor de barriga. E também não tem problema nenhum se você passar o dia inteiro dormindo no quarto do hotel só porque está cansada. Essa liberdade de escolher o que fazer e para onde ir, ou de mudar de planos na última hora em não atrapalhar ninguém é sensacional.

Mas como tudo tem dois lados; nem tudo são flores e  tem alguns espinhos também. Viajar sozinha significa não ter ninguém pra desabafar em caso de frustrações ou qualquer chateação; não ter ninguém pra tirar fotos suas nem para te ajudar a fechar a mala, que insiste em aumentar de tamanho. Não sei se isso é geral, mas no meu caso me senti muito vulnerável várias vezes. É chato você viver desconfiando das pessoas que se aproximam de você pra bater papo; é chato andar na rua com medo, se sentir acuada; é chato não ter segurança nem para pegar um táxi e ficar achando que o motorista vai te sequestrar. É chato não saber se um simples “Good Morning” que um homem te dá na rua é só um cumprimento ou ele tem segundas intenções.  É chato (e doentio) viver num mundo machista onde a mulher é a culpada caso ela sofra um estupro.

Quando eu comecei essa viagem, que por acaso era a semana de comemoração do dia Internacional da Mulher, lembro que duas mulheres que viajavam juntas foram assassinadas na Bolívia. Interessante foi que a mídia noticiou que elas estavam viajando sozinhas. Me pergunto quando foi que o Aurélio mudou o significado da palavra sozinhas (ou juntas). Como assim elas estavam sozinhas? A presença de uma outra mulher não conta como companhia? Tinha que ser de um homem? Isso que a mídia quis dizer, que um homem teria evitado a morte delas? Não sei, mas de qualquer jeito um homem não foi capaz de evitar o estrupo coletivo, e a consequente morte, de Jyoti Singh. Ela voltava do cinema com um amigo em Nova Delhi em dezembro de 2012. Ao entrar no ônibus as nove horas da noite, ela foi atacada por seis homens, que se sentiram no direito de “dar uma lição nela, pois mulher direita não anda na rua a essa hora” – palavras de um dos estupradores. A estória dela foi contada no documentário Filhas da Índia, mas este é proibido de ser exibido lá. Infelizmente, parece que nada mudou L.  

Sim, a Índia é um país perigoso para mulheres viajarem sozinhas. Graças à rapaziada toda que está viajando comigo e à companhia da Carol, não tive nenhum problema por lá (a não ser o dia que sai fugida do hotel em Daramshala, porque não gostei da encarada que o cara que cuidava do hotel me deu). Mas dá pra sentir o medo que paira no ar e dá para observar que é um país muuuitoooo machista. De qualquer maneira, tem muita mulher que encara o medo, que se precave de todas as formas possíveis, coloca a mochila nas costas e vai. Encontrei algumas tantas pelo caminho. Também achei interessante quando cheguei na Tailândia (e nos países vizinhos que visitei), senti como se um peso enorme tivesse saído das minhas costas. O medo tinha ido embora! Fiquei encantada de ver as mulheres nas ruas vestindo o que estavam a fim de vestir (não interessa se o short é curto ou não) e ainda dirigiam e trabalhavam! Nossa, um baita contraste com a Índia!

Infelizmente, nós mulheres passamos por muitas situações chatas e desagradáveis (desde o “inofensivo” fiu-fiu na rua até as ofensas mais hostis) seja viajando, ou muitas vezes, na nossa rotina. O fato é que, quanto mais eu viajava pelo sudeste asiático, mais segura eu me sentia. Mesmo sendo os países mais pobres que visitei nessa aventura. Até fiz um experimento: eu achava que eu me sentia segura assim porque não entendia a língua deles. Achava que poderia haver alguma piadinha sem graça que eu não entendesse. Mas acredite, não existe! Eu passava por grupos de homens reunidos, e até por prédios em construção, e dava uma discreta olhada pra trás. Parecia que eu nem existia! Eu achava isso o máximo! Mas de qualquer jeito, o medo que existe no inconsciente coletivo feminino (ou no consciente mesmo) me fazia atravessar a rua ou mudar a direção quando eu via um grupo de homens se aproximando.

Acho que o mais importante disso tudo é nunca deixar de viajar, ou fazer qualquer coisa, por medo. Com a devida atenção, cuidado e muita informação dá para se aventurar por ai. No fundo no fundo, viajar sozinha não é um problema quando você não se sente solitária.








quarta-feira, 1 de junho de 2016

TCHAU ÁSIA

Noventa dias de estrada... sete países novos... 26 cidades diferentes... e muita coisa rolou por aqui! Não tenho adjetivo pra qualificar esse mochilão até agora. É mais que extraordinário... É mais que maravilhoso... É mais que tudo! É, com certeza, inesquecível! Não tenho adjetivo pra qualificar a viagem, mas tenho um sentimento. Sabe quando você se realiza só porque foi capaz de encarar seus medos? Isso é o que a Ásia representa pra mim! A Ásia é um mundo de possibilidades de pensar fora da caixa, de abrir a mente, de enxergar que existem outras visões e pontos de vista, de aprender a viver um dia de cada vez, simplesmente porque você resolveu se entregar pro Novo e para as incertezas que o Universo trás. Isso tudo te dá uma sensação imensa de liberdade e de coragem pra viver a vida de peito aberto, sem medo dos obstáculos!

Finalizando minha visita ao continente asiático, passei por Laos e Myanmar. Fiquei apaixonada por Luang Prabang em Laos. É tipo cidade do interior, aconchegante e charmosa. Gostei das pessoas, da comida, de conhecer o principal rio de Laos (o Mekong), de conhecer Kuang Si Waterfall, de ver o ritual de Alms Ginving que os monges fazem ao amanhecer e do clima (que melhorou consideravelmente). Já em Myanmar não tive uma impressão muito boa de início. Achei as pessoas mais fechadas, a infraestrutura é precária e não estava muito feliz. Bem da verdade, confesso que já estava um pouco cansada da Ásia. Não aguentava mais ver um templo ou uma pagoda na minha frente.... rsss...   Já estava uma turista bem chata que não quer ver mais nada, nem tirar fotos, nem comprar nada, nem passear mais. Mas com o tempo fui melhorando e descobrindo que o birmanês é um povo tão simpático quanto os dos países vizinhos. Tive experiências bem legais por aqui. Uma delas foi encarar meu medo de andar de moto!

Há uns dias estavam imaginando como seria legal eu alugar uma moto e andar por esses lugares que passei. De certa forma, a moto te dá uma mobilidade maior que os outros meios de transporte não dão. Daí comecei um diálogo comigo mesma: “Vou voltar pro Brasil e vou aprender a andar de moto. Mas peraí gracinha, você tem medo de moto, lembra? Ah é, então melhor deixar pra lá. Mas que seria o supra sumo da sensação de liberdade, ah isso seria...” E pronto! Parei de pensar nisso, maaaaassssss..... Meu primeiro dia em Mandalay (Myanmar) cheguei no hotel, deixei minhas coisas e fui andar na rua. Não tinha nem chegado na esquina do hotel, um cara me parou e perguntou se eu queria carona pra ir pro lugar que eu estava indo. Não sei porque (na verdade sei sim, foi armação do Universo) parei pra dar atenção pra ele, porque geralmente ando nas ruas com meu mantra ligado: “No, thank you! No, thank you! No, thank you!” Respondo isso pra qualquer pessoa que tenta me oferecer um passeio, uma roupa, um souvenir, uma comida, ou qualquer coisa nas ruas.

Tentei me livrar do cara dizendo que não sabia pra onde eu ia, que estava andando só pra conhecer a cidade, que só estava procurando um SIM Card pra comprar. Então ele me mostrou uma loja que tinha o chip, fui lá e comprei (com a ajuda dele como tradutor). E ele me convenceu a ir ver o pôr-do-sol num lugar que, segundo ele, era imperdível (e era mesmo). Ok, combinei o preço e quando me dei conta, o transporte dele era o que? Uma moto! As sinapses do meu cérebro falharam no momento que ele falou MOTORCYCLE (eu imaginei que era TUK-TUK). E agora? Tentei cancelar o combinado, né? O medo nessa hora estava gritando na minha cabeça: “Você não vai andar de moto com um cara desconhecido né!?”  Ledo engano; peguei meu medo de andar de moto e levei ele pra passear... de moto, é claro! Nos primeiros minutos eu queria morrer! Imaginei as maiores tragédias que poderiam acontecer (e olha que sou boa nisso; poderia escrever novela mexicana). Estava quase tendo tendinite por causa da força que eu segurava no banco da moto. Depois fui relaxando, fui curtindo. Curti tanto que fechei o passeio com o mesmo cara no dia seguinte. J E em Bagan (Myanmar também) aluguei uma vespinha pra explorar a cidade sozinha. E posso dizer que realmente foi o supra sumo da sensação de liberdade andar de moto explorando um lugar novo. Valeu Uni!

E foram assim esses dias... Muita aprendizagem e muita reflexão! Sem demagogia, a frase que mais tenho dito ultimamente é: Obrigado Senhor! e suas variações: Valeu Uni, Hi5 Deus! Quando estamos numa situação como esta, de viajar para lugares desconhecidos e de culturas e povos diferentes de tudo que você já viu na vida, percebemos o quanto somos abençoados e protegidos. Desde as menores coisas, como a sopa que está quentinha, o chuveiro do hotel que é o melhor conforto depois de uma longa viagem, até as maiores coisas como sua mala não ser extraviada, não perder o voo, não perder seu passaporte e seu dinheiro, ou simplesmente estar viva e com saúde para aproveitar tudo isso!  Ah, sem falar, no abraço inesperado que você recebe do cara que carregou sua mala no hotel, só porque ele viu escrito na sua testa que você não estava bem aquele dia e precisava de um conforto (isso só podia ser na Tailândia - já falei que eles são o povo mais receptivo do Planeta?). É, só tenho a agradecer! Valeu Uni!

Vista de Luang Prabang

Passeio no Mekong

Visita à caverna em Luang Prabang

Kuang Si Waterfall - encantada com tanta beleza

Adorei os monges de Myanmar

Passeando de moto em Mandalay

Pôr do Sol incrível em Bagan

Templos em Bagan

Budas em Old Bagan

Old Bagan

Passeio de barco em Inle Lake

Pescadores em Inle Lake

Passeio de barco em Inle Lake

Outro pôr do Sol incrível. Obrigada Senhor!