Varanasi, o que dizer desse lugar? Ela é uma das cidades mais
antigas do mundo, além de ser um dos principais símbolos da Índia. É a morada do
deus Shiva (um dos principais deuses do hinduísmo). Shiva é o deus da
transformação, da destruição de todos os males. E Varanasi traz a perspectiva
de um novo começo, de deixar morrer o velho para renascer o novo. É aqui que a maior parte dos indianos deseja morrer, pois acreditam
que quem morre em Varanasi, atinge Moska, a liberação do ciclo de reencarnação.
Pra mim foi uma mistura de vários sentimentos... A excitação de
chegar, o susto de me deparar com a sujeira do lugar, o respeito pela devoção e
pelos rituais locais, a curiosidade de conhecer os Sadhus, o encontro com o rio
que celebra a vida ao mesmo tempo que se despede dela. Essa é Varanasi! Foi
aqui que aconteceu meu choque cultural... Foi aqui que me assustei e me
encantei ao mesmo tempo. Nada nem ninguém pode te preparar para tudo se sente nessa
cidade. Não é à toa que o “lema” daqui é: Você sai de Varanasi, mas ela não
sai de você! Tudo é uma mistura de emoções, de conceitos (e às
vezes os seus pré-conceitos e julgamentos que caem por terra). Todo o cenário,
toda a cultura e todas as pessoas te fazem entender a crença fervorosa que eles
carregam. A devoção e a ritualização te aproximam do seu Eu Interior, fazendo
refletir que tudo é passageiro, tudo é impermanente.
Em Varanasi compreendi na prática o real significado de Santôsha (a sétima norma ética do Yoga e, particularmente a que eu mais gosto). Santôsha significa contentamento, o sentimento de darmos valor àquilo que temos e não nos lastimarmos por aquilo que não temos. Mesmo com todas as circunstâncias não favoráveis, como a sujeira e a condição social, não encontramos um único indiano que reclamasse da situação, da vida. Pelo contrário, encontramos muita gratidão nos olhos, nos sorrisos e nos gestos deles, independente das condições. É como aquele velho ditado: A beleza está nos olhos de quem vê. Estar contente é um estado de espírito, uma maneira elegante de estar no mundo, de contribuir para a vida fluir.
Chegamos em um sábado à tarde e pra acessar o hotel tivemos que andar, com mala e tudo, desviando da multidão, dos tuk-tuks, das bicicletas,
das vacas (e dos cocôs delas no chão). Nosso primeiro “passeio” foi para o
crematório. O guia explicou todo o ritual e as crenças dos hindus em relação à
morte. De tudo o que vi e ouvi, o que mais me impressionou foi o fato de que os
Intocáveis ou Dalits (casta mais baixa da divisão social dos Hindus) é quem faz
todo o serviço no crematório. Os Intocáveis são aqueles que fazem o trabalho “impuro”
como lidar com o lixo ou com os mortos (animais ou pessoas). Por isso, também são
considerados impuros e portanto não podem nem ter contato físico com os “puros”.
Eles vivem marginalizados e separados do resto das pessoas. A eles, não é concedido
nem o direito de rezarem nos templos. Apesar desse sistema de castas ter sido abolido em 1947 (era uma das coisas que Mahatma Gandhi lutava contra), infelizmente ele ainda é praticado, principalmente em relação aos casamentos entre os Hindus. E por que isso me impressionou? Porque na
hora da morte nada disso importa mais. Do pó viemos e ao pó voltaremos. Os “puros” e “impuros” ficam lado a lado
para realizar a cremação e liberar a alma do corpo morto.
Logo depois fomos em um ritual de agradecimento à deusa Ganga (o rio
Ganges). Conta a história, que Ganga era uma deusa que queria descer à Terra
para atender aos pedidos dos homens. Mas ela tinha muita energia e partiria a
Terra ao meio se descesse diretamente. Os homens pediram ajuda à Shiva e esse
disse a Ganga que primeiro descesse em sua cabeça. Após diminuir sua força,
Ganga poderia descer a Terra sem prejudica-la. Para os Hindus, tomar banho no
Ganges significa a redenção dos pecados humanos. A vida não estaria completa
sem tomar banho no rio ao menos uma vez. E é isso que vemos em todos os lados,
homens e mulheres (e crianças e vacas também) se banhando no rio, rituais de
agradecimento às bênçãos recebidas e celebração pela vida. O mesmo rio que recebe cinzas de corpos mortos, também recebe oferendas, cantos e rituais dos
vivos.
Chegando em Varanasi
Amanhecer no Ganges
Ganga e Varanasi
Banho no Ganges
Passeio de barco
Banho no Ganges
Oferendas (Puja)
Nosso Puja à Ganga
Admirando e agradecendo
Saris ao vento
Encontro com os Sadhus
Fazendo novas amizades...
Tomou banho no rio?
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